Uma técnica desenvolvida por pesquisadores de Rio Preto atrai pacientes de todo o Brasil e também do exterior para a cidade em busca de um tratamento eficaz contra a elefantíase. Apesar de não ser nova - foi desenvolvida há quase duas décadas -, é considerada revolucionária. A proposta é devolver à pessoa com a doença um estado de quase normalidade do membro atingido. A esperança de voltar a ter vida normal fez o caminhoneiro Stevão Ahnert, 39 anos, do Espírito Santo, vir a Rio Preto em busca de tratamento.
O tratamento criado pelo cirurgião vascular José Maria Pereira de Godoy e pela terapeuta ocupacional Maria de Fátima Guerreira Godoy foi alvo de reportagens do Animal Planet e do Discovery Channel. Segundo os especialistas, está sendo propagada em diferentes partes do mundo em congressos, seminários, palestras e cursos. A elefantíase é uma doença que pode ser congênita, ou seja, a pessoa nasce com ela, ou adquirida. Em regiões menos desenvolvidas da América do Sul, África Central, Ásia, Ilhas do Pacífico e do Caribe, ela é transmitida por mosquito e conhecida como filariose linfática (FL).
Estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que existam 120 milhões de pessoas com linfedema (obstrução do sistema linfático) e dessas, 16 milhões estão com elefantíase. Segundo Godoy, nos últimos 20 anos mais de oito mil pacientes do Brasil e exterior já passaram por sua clínica com linfedema, que é um edema (inchaço) decorrente do acúmulo anormal de líquido, chamado linfa, nas áreas afetadas. Ele pode ocorrer em três estágios, sendo o grau três o mais severo e que caracteriza a elefantíase congênita. “Em 90%, os casos estão em fase inicial e o tratamento é mais simples. Já os casos mais graves, exigem tratamentos longos”, diz José Maria.
Métodos
A técnica desenvolvida pelos especialistas, que também são professores da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp), modifica completamente os métodos adotados em casos de elefantíase. Um princípio básico do tratamento é a drenagem linfática para a eliminação do líquido do corpo.
“No mundo, a técnica usada ainda é a que foi criada há quase um século”, diz o médico. Em um simpósio apresentado pelos dois pesquisadores, em 1999, e que foi publicado pelo Jornal Vascular Brasileiro, eles já apresentavam uma nova proposta para o tratamento. Enquanto a técnica de drenagem linfática manual, desenvolvida pelo biólogo dinamarquês Emil Vodder e sua mulher, Estride Vodder, em 1936, e ainda em uso, apregoa movimentos circulares, a criada pelos pesquisadores rio-pretenses usa roletes como mecanismos de drenagem e obedece o sentido do fluxo da linfa.
Mas essa não é a única diferença. Um aparelho é colocado nos pés do paciente da clínica e fica por horas flexionando, como forma de drenagem. Também foi criado um mecanismo de contenção com meias e bandagens diferentes para proporcionar um tratamento mais avançado e que permite a reabsorção da pele que foi “estirada” por causa da elefantíase.
Normalização
Segundo Godoy, a técnica de chegar a quase normalizar os membros de um paciente com elefantíase é feita apenas por ele. Após tratar da doença, que não tem cura, em geral o paciente é encaminhado para procedimentos cirúrgicos para retirada da pele. “No mundo, o que se consegue hoje é reduzir o edema em 30% a 40%. Depois, passa-se a considerar que é fibrose. A nossa técnica é a de quase normalidade. Estamos passando o tratamento desenvolvido por nós para especialistas de todo o mundo, já que o que existe hoje é um procedimento ultrapassado”, afirma.
Perna chegou a pesar 120 quilos
O caminhoneiro Stevão Ahnert, 39 anos, encontrou em Rio Preto a esperança de tratamento para a doença que o acompanha desde a infância. Com 10 anos, a perna esquerda começou a inchar e o quadro foi se agravando. Em 2008, médicos que o tratavam, no Espírito Santo, deram como única opção a amputação completa da perna esquerda. Ahnert tem elefantíase e sua perna chegou a pesar 120 quilos. Com pouco mais de uma semana de tratamento, já foram eliminados mais de 40 quilos.
Segundo Godoy, dos pacientes atendidos em sua clínica, 75% têm elefantíase congênita, como no caso de Ahnert, e 25% são de pós-câncer, especialmente o de mama. “Eu achei que fosse morrer assim, que não teria cura, que nunca mais poderia ter uma vida normal. No fim do ano passado, soube do tratamento feito em Rio Preto e comecei a me corresponder com o médico. Vim para a cidade onde estou morando com a ajuda de campanhas feitas na internet”, conta Ahnert. O SUS não reconhece a elefantíase e o tratamento é particular.
Só de ter eliminado 40 quilos de líquido da perna esquerda, ele diz que já se sente outra pessoa. “A sensação é maravilhosa, não vejo a hora de poder andar de novo, de voltar a trabalhar”, diz o caminhoneiro. Por falta de condições de saúde, ele está afastado e recebe auxílio-doença. O médico afirma que no próximo ano seu paciente poderá voltar às estradas. “Não tem cura e o tratamento é individualizado. No caso do Stevão, vão ser de seis meses a um ano, mas ele ficará praticamente normal.”
Doença é comum em países pobres
Enquanto no Brasil, segundo Godoy, a maior prevalência da elefantíase se dá por problemas congênitos e pós-câncer, no mundo, ela é secundária e adquirida por meio de parasita que é transferido para o corpo humano por picada de insetos. Também é uma doença de países pobres e que têm clima tropical ou subtropical, com calor e chuvas. A filariose linfática é considerada uma doença negligenciada, de caráter debilitante. É causada pelo verme Wuchereria bancrofi por meio de picada dos mosquitos Culex, Anopheles, Mansonia ou o Aedes aegypti.
No Brasil, esse tipo de transmissão está restrita ao Recife. Em 2015, um dos vencedores do Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina foi o cientista Wiliam Campbell, da Drew University in Madison, nos Estados Unidos, pela descoberta de uma classe de drogas – a avermectina – cujos derivados se mostraram capazes de matar parasitas causadores da filariose linfática.
Fonte: Diario da Região
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